sexta-feira, 20 de julho de 2007

Não é para ser falado
Nem sequer pensado
Denominar já peca
O silêncio onde tudo se revela
Onde te revelas
Te revelam
Os teus sorrisos e lágrimas
Que são afinal
Pó e terra, areia e sal, rios e lagos,
mares, montanhas, céus, planetas e estrelas, galáxias e Universos
Danças e embalos, Luz, Significado e Propósito
Unos e indivisíveis
E o silêncio que te inclui e aceita
Diz-te que sim e sorri
Com a saudade de quem te aguardava
Certo que virias
Conta-te a piada de certos imortais
De que nunca estiveste separado

Faça-se silêncio
Que a mente não mentirá
E a carne não chorará
Pelo êxtase de estar separada
Por sentidos que não fazem sentido
À visão maior de estarmos todos
Livres e capazes de saber do silêncio
Quantos corações
Batem no coração do silêncio

quarta-feira, 11 de julho de 2007

Em passos lentos, sem pressas
Sem nenhuma pressa
Qual corpo inanimado
Não te moverás
Encantado na ligeireza
Desta sombra que tão bem reconheces
De outros momentos
Sem pressa
Direita a ti
Quase que dança
Uma dança que encanta
Com o seu corpo vazio
Do fundo dos oceanos
Dança todo o corpo
Todo menos os olhos
Esses olham para ti, sempre
De soslaio, quase escondidos
Só o suficiente...

Enquanto respiras cada vez mais depressa
Os teus olhos já não a vêem
Agora é o teu corpo arrepiado
Que sabe que está lá
Que te diz que estás lá
Envolto nela, asmático, frio
E quase como se fosse feita de nada, poderosa
Aproxima-se da tua orelha e sussurra:

“Eu sou tu.”

terça-feira, 10 de julho de 2007

Palavras
Para que vos quero
Que vos quero separar
Que me quero separar
Como o horizonte separa
O dia da noite
Estão todas aqui
À espera de colher o próximo momento

E o momento era eu
Fui, voltei e fui e voltei

Paciência,
Jamais serei o mesmo
Depois de chegadas as palavras

segunda-feira, 9 de julho de 2007

Depois de uma rodada
Rodada depressa
Com medo de ficar para trás
No comboio, no autocarro
Ansioso por momentos
Que estão sempre por chegar
Com medo de ficar sozinho
Na luta ao poder
De vos fazer dizer que sim
Que tenho o valor que me valerão
Os grandes carros e as grandes casas
Depois de mil faces de irmãos
Que não reconheço
Porque não sei quem são meus pais
Depois de mil cigarros
A pedir que acalmem a vontade
De vos matar a todos
Depois de chegado a casa
Banho tomado, cabelo enxugado
E no espelho...

O quadro mais triste
Estou de saída
De tudo onde estava
E farei de vós que se erguem
Vozes em mim
Que se regem
Pelo que há em não mexer
Em porque não perdoar
Aqueles que diante de vós
Vos remetem
Partes que não ousam
Ouvir, falar tão pouco ver
E farei de vós que se erguem
Partes de mim
Que me completam
Porque não me fico
Na vossa graça
Onde pregastes vós
Não há a desgraça
Daqueles que morreram
Acredite quem
Carregado não tenha
O peso da ilusão de estar
Separado por estar preparado
Para abrir mão desta visão
Porque estou de saída
Vemo-nos mais além
Vejo-me mais de vós
Por cada um que não
Vejo como parte de mim
Como significado desta sorte que me apressa

É hora de ir
Vejo-vos a todos e por isso vou
Porque virão todos comigo
Mesmo que se perguntem

Para onde fui.